O filme é Papillon, lançado em 1973. O personagem de Steve McQueen, Henri Charriere, sonha durante o período em que esteve preso na solitária, que caminha sob o sol escaldante do deserto africano, vestindo seu terno bege, em direção à um júri. O júri, assim que o vê em sua frente, lhe condena. Henri (McQueen) defende-se imediatamente dizendo que é inocente, e que uma armação lhe fora imposta. O júri então concorda sobre sua inocência quanto ao crime que o levara a prisão, e se explica: “É sobre outro crime que falamos. É sobre o mais terrivel crime que um ser humano pode cometer. Nós o acusamos de desperdiçar sua vida! E a pena para este crime é a morte”. O personagem de Steve McQueen limita-se então a abaixar a cabeça, fitar a areia e soar um lacônico “Culpado...”.
O filme talvez pouco tenha a ver com Natal. A cena porém, tem muito. Independente da religião que tenhamos, o que o Natal simboliza é o que deve marcar esta data. A palavra Natal é de origem latina, vem de “nativitas”, que por sua vez significa nascimento. A data portanto, é por si só um chamado a todos a nascer. Ou quem sabe, renascer. Acordar para novas alternativas, oportunidades. Acreditar que é possível começar um novo projeto, ou talvez recomeçar o mesmo. É época de lembrar que podemos cometer todos os erros durante nossas vidas, menos um, o de desperdiça-la.
O júri do filme descrito acima é de rara sabedoria quando afirma que a morte é a pena para quem desperdiça a vida. Afinal de contas, aqueles que ousam vivê-la também morrem, mas para estes a morte não se reflete em pena, mas tão somente no desfecho de um lindo ciclo. Por outro lado, para aqueles que temem vivê-la, a morte é a certeza do fim das chances de se escrever uma história.
Desejo então, neste Natal, que meus amigos vivam. Mas que vivam verdadeiramente. E viver inexoravelmente significa arriscar. Mas acalmem-se, não tenham medo da palavra “risco”. Afinal de contas risco não significa fracasso, e sim incerteza. Aceitem que o caminho que trilham talvez não seja aquele que potencializa seus talentos, e sim o que as casualidades da vida os levaram a trilhar. É matemáticamente provavel que assim o seja. Afinal de contas, como exemplo, poucos escolhem seu primeiro emprego, são na verdade escolhidos por ele. A chance de seus maiores talentos serem exatamente os que se encaixam neste emprego são mínimas, e entretanto grande parte segue a carreira que começou até o fim de sua vida, desperdiçando portanto o que tem de mais valioso. Mudar, mais frequentemente do que se imagina, é preciso.
Todos temos algo a mudar. Mudar o emprego. Mudar o companheiro, ou talvez mudar a maneira como se trata o companheiro. Mudar as crenças. Mudar as certezas. Mudar os conceitos, e mais importante ainda os pre-conceitos. Mudar o jeito de ver o mundo, afinal o mundo por si só esta em plena mudança. Mudar onde se mora. Mudar em quem se espelha. Mudar à quem se ajuda. Mudar a saude. Mudar a atitude.
Quero que meus amigos se cerquem de bem. Quero que possam ser agentes transormadores e multiplicadores de algo que, apesar de pequeno, possa ajudar a mudar o mundo. Quero que acreditem no poder da mudança e que sejam eles próprios o ponto de partida dela. Quero que usem seu conhecimento para somar, e sua coragem para mudar. Quero que sejam humildes o suficiente para aprender, mas confiantes o bastante para ensinar. Quero que aproveitem demais a vida e não cometam nunca o crime de desperdiça-la. E mais do que tudo, quero que tenham um Natal mágico e tenham suas esperanças e sonhos renovados e multiplicados no ano que surge, pois serão estes para sempre o maior e melhor dos combustiveis de suas vidas.
Feliz Natal e um próspero ano novo
Monday, December 21, 2009
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